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Monitoria de cuidados Paliativos

  • Foto do escritor: Blog NUCIM
    Blog NUCIM
  • 28 de mar. de 2018
  • 5 min de leitura

A entrevista de hoje é com o prof. Rafael Nobre. Ele falou um pouco sobre sua experiência com a monitoria de cuidados paliativos.


NUCIM: Fale um pouco sobre seu projeto.

Prof. Rafael: O objetivo da monitoria em Cuidados Paliativos é, além de estimular a iniciação à docência, aproximar o estudante já na graduação desta temática tão pertinente na atualidade. É perceptível que, com avanço tecnológico atual associado ao desenvolvimento da terapêutica, muitas doenças antes letais passaram a se configurar como crônicas. Vivenciamos o aumento da expectativa de vida, mais também - e aliado a isto - um aumento da prevalência de doenças crônico-degenerativas e neoplásicas. Assim, pacientes “fora de possibilidade de cura” acumulam-se nos hospitais, recebendo invariavelmente assistência inadequada, quase sempre focada na tentativa de cura, utilizando métodos invasivos e de alta tecnologia. Essas abordagens, ora insuficientes, ora exageradas e desnecessárias, quase sempre ignoram o sofrimento e são incapazes, por falta de conhecimento adequado, de tratar os sintomas mais prevalentes. Não se trata de cultivar uma postura contrária à medicina tecnológica, mas questionar a “tecnolatria” e refletirmos sobre a nossa conduta diante da mortalidade humana, tentando o equilíbrio necessário entre o conhecimento científico e o humanismo, para resgatar a dignidade da vida e a possibilidade de se morrer em paz. Um dos principais objetivos do módulo (e consequentemente, da monitoria) é promover uma mudança de atitude em relação ao atendimento de pacientes gravemente doentes e suas famílias. Assim, utilizamo-nos de simulações realísticas para treinamento de habilidades específicas relacionadas ao trabalho em equipe interprofissional, habilidades de relação e comunicação com o paciente, a família e a equipe envolvida neste cuidado.Provocamos também reflexões sobre o melhor posicionamento no cuidado do paciente fora dos recursos de cura, utilizando os conhecimentos construídos sobre a Filosofia dos Cuidados Paliativos e sobre o atendimento ao paciente com este perfil, bem como os estudos sobre a morte e o morrer e enfrentamentos ao luto. A Monitoria de Cuidados Paliativos busca engrandecer o método de aprendizado através da participação em simulações realísticas, auxiliando na implementação do sistema denominado Educação Médica Baseada em Simulação (EMBS), que favorece o aprendizado solidificado e potencialmente reduz desfechos desfavoráveis no “mundo real”. Em Cuidados Paliativos, tal prática é essencial, pois a comunicação efetiva e terapêutica exerce papel primordial, sendo capaz de evitar consequências desastrosas como o luto patológico. Através das simulações é possível facilitar o aprendizado entre os profissionais de saúde e minimizar as possíveis complicações decorrentes de intervenções ou tratamentos inadequados, ou seja, aumentar a segurança aos pacientes e familiares. Somente através de vivências emocionais em situações difíceis poderemos desenvolver atitudes empáticas e humanizar a atenção aos pacientes. Assim, o monitor é inserido em um sistema de educação médica efetivo, o qual proporciona o aperfeiçoamento de suas habilidades e o despertar à docência. A monitoria teve início a partir da segunda turma que cursava o módulo, já em 2017.2. Após a primeira turma vivenciar as experiências da disciplina, foram despertados os interesses e a sensibilização ao tema. O público alvo seriam os estudantes de graduação que estão no sétimo semestre, mas as ações previstas têm o intuito de atingir alunos de todas as fases do curso. Os participantes, atualmente, são os monitores do módulo e outros discentes que demonstram interesse pelo assunto, sendo o grupo atualmente composto de alunos do internato (3 participantes, sendo 1 monitora), do oitavo semestre (4 monitores) e do sétimo semestre (que, apesar de ainda não terem finalizado a disciplina, decidiram participar por interesse próprio).

NUCIM: Que benefícios trouxe tanto para o curso como para alunos e professores participantes? Prof. Rafael: Trata-se de uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, pois ao lidar com situações nas quais a cura não é possível, emergem os limites dos saberes e das práticas em saúde - daí a necessidade de posicionar o acadêmico de medicina diante deste desafio ético, ressaltando a dignidade do sujeito. Isto só é possível mediante vivências emocionais que integrem o treino de habilidades comunicativas, relação interpessoal e atitudes reflexivas frente à finitude humana. Os benefícios atingidos são claros: as atividades da Monitoria de Cuidados Paliativos propiciaram a fixação dos conhecimentos teóricos, assim como a representação de tal conteúdo na prática, lidando com relações interpessoais com paciente, família e equipe. Além disso, a monitoria promoveu maior integração dos discentes de diferentes períodos da educação médica, o que possibilitou a discussão e ampliação dos ambientes práticos em que se aplicam os Cuidados Paliativos. O monitor desfruta da oportunidade de relembrar o conteúdo programado, aprimorar habilidades ainda não desenvolvidas, além de efetuar práticas pedagógicas em um sistema de ensino médico comprovadamente eficaz, sendo, portanto, inserido e estimulado à experiência docente.


Atividade de Simulação

NUCIM: Como você avalia o projeto?


Prof. Rafael: Até agora, o projeto tem sido avaliado positivamente, tanto pelos monitores como pelos alunos que percorrem a disciplina. Os alunos consideraram as simulações de grande valia para o desenvolvimento de competências afetivo-emocionais e habilidades de comunicação, pois relataram as dificuldades encontradas em cada contexto e discutiram junto ao monitor e ao professor estratégias possíveis para superá-las. Dessa forma, a cada simulação subsequente foi permitido solidificar tais técnicas e aprimorar suas habilidades. No mesmo contexto, foi também possível analisar e exercitar a comunicação não-verbal dos alunos, capaz de transmitir diversos tipos de mensagens. Nas situações, são exigidas estratégias de comunicação nas linguagens: Paraverbal (entonação, tom de voz e ritmo do discurso), Cinésica (expressões faciais, gestos e postura do profissional), Proxêmica (uso adequado do espaço interpessoal), Tacêsica (forma de tocar o paciente) e Física (fatores ambientais). Através destas práticas, os alunos puderam amplificar suas habilidades comunicativas e direcionar suas atitudes e comportamento em prol do paciente e seus familiares, o que permitiu atingir o objetivo das atividades. Vale salientar que o convívio da monitoria propiciou a troca de experiências acadêmicas acerca das simulações, aumentando a dinâmica do aprendizado. Como produções, além da apresentação do relato de experiência no Outubro Acadêmico (evento interno da instituição), foi elaborado um relato levado ao COBEM - Congresso Brasileiro de Educação Médica, em Porto Alegre.

Como consequência dessa avaliação positiva, para o ano de 2018 tivemos a entrada de 4 novos monitores, e uma previsão de linha de ações que vão além dos muros da instituição. Estão previstos: elaboração de um Manual de CPs UNINTA, com foco no ensino de graduação; criação e manutenção de um blog de Cuidados Paliativos para aproximar a temática da população em geral; idealização de uma Jornada de CPs a ser realizada no segundo semestre de 2018 e ação popular em outubro do ano corrente, quando ocorre o Dia Mundial de Cuidados Paliativos.



 
 
 

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